VEREDAS E ESTRADAS: 1
VEREDAS E ESTRADAS: 1
Jacobina (1731)
ROTEIRO DE JOAQUIM QUARESMA
DELGADO
Ah, meu caro,
se fosse possível ter uma visão espacial do sertão bruto de quatro séculos
atrás, poder-se-ia imaginar as dificuldades de conquistar essas terras e nelas
se estabelecer sem o mínimo de estrutura de sobrevivência. Poderia observar
também o grande rasgo produzido pela ação dos bandeirantes e sertanistas, que
foi a grande vereda que ligava a cidade do Salvador (antigamente chamada cidade
da Bahia) ao Rio São Francisco. Não era estrada. Era vereda mesmo: caminho
tortuoso, difícil e perigoso para os que se aventuravam por ele transitar.
A vegetação
era a mais variada possível. Ao sair da capital seguia-se coberto pela mata
atlântica até os limites de Alagoinhas com Ouriçangas, onde apareciam umas
clareiras para se alcançar os Campos das Itapororocas, região chamada
posteriormente de Tabuleiros; percorria-se até a Serrinha com essa vegetação de
altura mediana e composta por árvores e arbustos leitosos, na sua maioria.
Após cruzar o
rio Tocós, no atual limite dos municípios de Serrinha e Conceição do Coité, a
vegetação assumia uma forma completamente diversa daquelas que o viajante havia
convivido até aqui; árvores de pequeno porte, retorcidas, de cores escuras e
carregadas de espinho. Aqui e acolá destacavam-se alguns exemplares de
baraúnas, umbuzeiros, ipês e até colônias de cedro. Estava o viajante no
cenário conhecido como Boca da Caatinga e por ele se andava até o Rio do Peixe para
mais adiante alcançar o rio Itapicuru.
O caminho, de
ares agradáveis, fazia a viagem traduzir-se em satisfação, nos períodos de
chuvas. Porém durante as secas, esta rota era um martírio sem fim; o sertão
parecia mais duro e mais perverso, especialmente com quem almejava chegar ao Juazeiro,
no rio São Francisco, pegando a Serra da Itiuba. Para os que se dirigiam para a
Jacobina, a partir de Queimadas, podia contar com a brandura das margens do
Itapicuru, que mantinha poços com água até nos períodos de grandes estiagens,
de uma parte à outra.
Ocorre que o
Rei de Portugal necessitando de pessoas qualificadas para confeccionar os mapas
do Brasil, tanto do litoral quanto do interior, resolveu encaminhar para a
colônia (em 1729) os padres Jesuitas, Diogo Soares e Domingos Capassi, para
realizarem estudos astronômicos, botânicos e zoológicos. Esses padres, mais
tarde, ficaram conhecidos como os padres matemáticos. Para o trabalho de campo,
o Vice-Rei do Brasil, contratou (em 1731) Joaquim Quaresma Delgado, cujos
roteiros de viagens são ainda conhecidos.
Aqui citaremos todas as
localidades do roteiro para a Jacobina, relatadas por Quaresma. O documento é
amplo e traz as características de cada lugar: se tem ou não rancho
(hospedagem); da existência de pastos para os animais; da probabilidade de água;
dos moradores,; das casas desabitadas; e da existência de outras estradas, etc.
Passagem
ou Trapiche Velho
Duquiracanga
Água
Comprida
Pojuca
Rio
Catu do Machado
Borda
da Mata do São João
Alagoinhas
(Rio Catu de Fora)
Aramaris
Camarugipe
Barro
Vermelho
Água
Fria
Várzea
do Catana
Saco
do Moura
Serrinha
Maçaranduba
Pindá
Tanque
do Cuyaté
Várzea
do Paulista
Papagaio
Várzea
dos Porcos
Várzea
da Cruz
Vargem
Grande
Várzea
da Caveira,
Caramenha
Lages
Rio
do Peixe
Rancho
Volta
do Rio Itapicuru-Mirim
Passagem
do Rio (ao Rancho)
Tapera
do João Dias
Sapucaia
Vila
de S. Antonio da Jacobina
Da Jacobina ele segue para Minas novas, continuando a descrever todo o
roteiro.
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